segunda-feira, 14 de setembro de 2009

As chaves estão na mesa

Parece mais uma derrota, com os ombros pesados sei que deveria te abraçar, mas não o faço.
Hoje nossos corpos são quebra cabeças distintos.
Despedir-se é despir-se e eu nunca soube ter vergonha para ti.
Vejo nossos sonhos estampados em papel jornal, embalando copos, quadros...
Vejo suas malas cheias, meu armário vázio.
E de tão desconcertada fico apenas calada, prefiro hoje que você me odeie.
Assim é mais fácil para mim.
Eu só queria me afastar, para não ter que lidar com o desencontro das almas.
É melhor eu acender mais um cigarro, procurar na feira um pé de futuros felizes.
Meu corpo vai bater a porta e nunca mais voltar aqui, minha cabeça ainda fará uma ronda noturna, para assegurar a sua segurança e a minha nostalgia.
O tempo vai acalmar nossos nervos, podemos até quem sabe, por esquecimento, nos perdoar.
O sentimento se perdeu na laguna dos livros perdidos, canetas tinteiro e isqueiros bic.
Se algum dia eu o encontrar novamente espero que o reconheça.
Enquanto isso tenha mais coragem do que de costume.
Aprenda a lavar suas roupas sozinho e leia algum dos livros que eu te dei, eram partes minhas, só você que não entendia isso. E eles te darão tanto colo quanto eu te dei, apenas usarão palavras mais bonitas.
Não sentirei tão cedo a sua ausência, sentirei de tudo o que vivemos, que hoje parece claramente não ter existido.
Quem sabe um dia não nos ocorra uma reprise de domingo, seria bonito rever algo honesto.
Enquanto isso vou continuar seguindo, você sabe que eu sempre fui assim.
Não me culpe se eu não aparentar tristeza, você sabe que em mim sempre existirá um canto só seu.
Mas hoje não, hoje quero uma cerveja, boa música e um bom amigo, para me contar besteiras e me fazer pensar no quanto essa vida simples é agradável.
E no meio de um copo e outro eu vou acabar te esquecendo, calma, você também vai.
Por quanto tempo isso vai durar é que eu não sei.
Independente do que aconteça vamos nos sair muito bem, sempre fomos bem humorados ao extremo para sermos melancólicos eternos.
E virão outros, outras, que não deixaremos entrar, como de costume. Um dia alguém arromba a porta, e nós, com nossos sorrisos de lado, gentilmente lhe oferecemos um lugar no sofá, um canto no nosso corpo.
Não chore: é só a vida querendo crescer.