10 anos
Quanto eu tinha metade do tamanho que eu tenho hoje eu acreditava que quase tudo tinha vida. E para mim ter vida era falar e comer feijão. Sem esse papo de fotossíntese e dança das abelhas. Todo dia eu bagunçava o meu quarto inteiro, minha pantufa virava um carro, a almofada uma cama e o pote de gelatina era uma hidromassagem luxuosa. Até que um dia eu fiquei me perguntando o motivo de seres tão bem tratados(até hidromassagem eles tinham) não falarem comigo. Numa epifania ingênua concluí: Fome! Corri até a cozinha e enchi o prato de farinha de rosca(não sei porque diabos eu achei que barbies comiam farinha) e deixei no meio do quarto. Falei, calmamente para os meus bonecos: - Gente, eu vou sair rapidinho para vocês não violarem o código dos brinquedos. Contei até o número que eu sabia contar e entrei no quarto que estava com farinha espalhada por todos os cantos! Corri euforicamente até o quarto da minha mãe, gritando: eles tem vidaaaaa! Minha mãe com medo da filha ser esquizofrênica foi correndo para o quarto, e com uma cara cheia de dó olhou para o teto e para o imenso ventilador que estava ligado.